terça-feira, 2 de novembro de 2010

Camisa de Força .

  Não se sabe ao certo quando e como tudo começou. Talvez no primeiro suspiro na ala de parto, num hospital do Bexiga em 1991. Talvez em 2007, quando começou a estudar publicidade e propaganda. Ou em 2010, quando notou algumas realidades. Parece que ela simplismente adormeceu por 18 anos e apenas agora despertou para a incontestável verdade de que as coisas não são como deveriam ser. Mas Deus, em sua soberana justiça e sabedoria, sabe o que faz escrevendo certo por linhas retas que nós fazemos questão de entortar. E colocou na vida daquela garota cega pessoas e fatos que a fizessem enxergar; mesmo que o processo demorasse um pouco.
Ao longo do curso de marketing, foi notando lentamente os movimentos de uma indústria que ela diria "embreagadora", por entorpecer uma maioria esmagadora, convencendo-a de que seus produtos não são nocivos, são saudáveis e de que a compra deles não resultaria em mal algum à nada ou ninguém.
Mas o grande choque, sem sombra de dúvida, foi em sua experiência como vendedora de cartões de crédito. O dever era induzir a pessoa à compra a qualquer custo, sem se importar com sua renda, suas condições ou coisa alguma. O que ela sentia com relação a isso ia muito além da mera "dó de quem não tinha dinheiro", era respeito e compreensão de que não era justo converncer alguém com 14 filhos e renda de R$300 por mês de que um cartão de crédito seria economicamente viável e vantajoso. Não demorou muito pra que a pressão exercida em sua mente se convertesse em problemas de estresse e ela se demitisse.
Quando se deu conta, viu o quanto a maioria trabalhava no escuro, sem ver o que faz, e amordaçada por não usar a boca como instrumento de protesto. Viu que no fundo, a escravidão não foi abolida, mas apenas mudou de figura: ou você colabora com o sistema, ou passa fome.
E esse sistema te engole, te enlouquece. Não é difícil você se deixar envolver por ele. Ele está nas suas roupas, nos cosméticos, naquilo que você come e na mídia. E te faz adoecer cada vez mais.
Os dias passam, e mais uma pessoa com distúbio alimentar como bulimia ou anorexia surge. Mais um rapaz sofre de parada cardíaca ao injetar em si mesmo anabolizantes para cavalos de corrida. Mais moças abortam em clínicas clandestinas. Mais árvores são cortadas, mais casacos de pele são vendidos, mais carros são fabricados e mais pessoas acham que coca-cola mata a sede. Mais e mais os humanos correm atrás de dinheiro como ratos em roda correm atrás do queijo. E quanto mais segundos passam, maior é o nojo e também a certeza da menina de que ela não quer mais contribuir com isso.
Será que é demais ela querer ser feliz nessa porra? Será que é muito querer liberdade, respirar liberdade, sentir liberdade?
Ah, cansei de falar na terceira pessoa...rs
Só sei que eu acuso e recuso isso tudo que o mundo diz que é muito e que tem pra me dar. E se eu gostar de arte? E se eu gostar mais de chuva, sol, praia, cachoeira e cheiro de grama do que calça da Daslu e shoppings centers? E se eu não quiser mais fazer parte disso?
Vão me chamar de louca, de sonhadora, de revoltada, de vagal...eu já ouvi muito disso e nem cheguei aos vinte...e sei que nada disso é verdade. A única coisa que eu sei é que a melhor forma de mudar o mundo é mudando a mim mesma. E eu não estou satisfeita com o mundo como está, e você?
É de amor que o mundo precisa. É de consciência que o mundo precisa. Todos têm um universo por dentro, mas não conhecem mais que um cômodo. E se cada um conhecesse a própria força, a própria luz, e a energia potencial armazenada, empoeirados seriam os sofás e gastos seriam os sapatos.

Merecemos tudo o que há de melhor nesse mundo, e sem a mínima culpa. Mas temos que mudar nossos conceitos sobre o que é realmente o melhor.
:D


Jéssica R.

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